Sobre minha paixão pela Bahia creio que não seja novidade pra ninguém, rsrrss. Passei mais alguns dias no final do ano passado nesta terra de ritmo envolvente e praias de águas quentes, mas dessa vez, tive algumas experiências que me trouxeram outros olhares em Porto Seguro.
Carregamos nossos valores pra onde vamos, e é claro que animais sempre chamam minha atenção em qualquer lugar. Fiquei por sete dias em Porto Seguro e praias da região (Arraial d’Ajuda e Trancoso), e a presença massiva de animais pelas ruas e praias deixava meu passeio sempre um pouco mais tristonho.
É uma realidade de praticamente todo lugar, mas quando você está de férias, à toa, rsrsrs, repara mais. Não só os bichos, mas o comportamento das pessoas em relação a isso. Durante esses dias por lá, três fatos em especial me fizeram refletir:
Existem muitos cães nas praias. De todos os tipos e tamanhos, muito deles machucados, com feridas, naturais de bichos que estão à mercê da sorte na rua. A maioria deles dóceis, brincavam com as pessoas, com as crianças na praia. Nadavam, corriam atrás de bolinhas, tiravam sonecas embaixo do guarda sol. Estavam sempre por perto e na maioria das vezes eram motivo de admiração dos turistas e frequentadores das praias. Ficava pensando: por que esse pessoal dos quiosques que estão ali diariamente, que convivem com os animais, não jogam nem que seja um remedinho pra aliviar a dor dos que estava machucados?! ... Bom, perguntei pra um ou outro funcionário na praia e a resposta era sempre: Haaa, eles são assim mesmo, nem ligam pra esses machucados não... Enfim...
Pra minha surpresa, numa manhã, avistei mais um cachorrinho simpático na praia, mas esse estava com coleira. Pensei que poderia ser de alguém que estava por perto, mas depois de um tempo, percebi que não era, e que na coleira havia uma plaquinha pendurada. Fiquei curiosa e chamei o cachorro, que era cachorra, e na coleirinha estava escrito: “Sou castrada, quer me adotar?” e um número de telefone... Não sei se fiquei feliz ou triste, mas acho que feliz. Afinal, quem fez isso deve gostar de bichos e tentou ajudar de alguma forma. Quem geralmente faz isso já tem muitos bichos em casa e acaba não conseguindo abrigar ou doar todos que tem vontade. Durante todo o dia observei essa cachorrinha por lá, ela era bonita, simpática, e em toda mesa que ela passava sempre cativava as famílias. Todo mundo sempre se surpreendia ao ler a plaquinha, e pelas expressões, acho que ficavam um pouco confusos como eu, um misto de alegria e pena ao mesmo tempo, vontade de ajudar, mas impotência também... Depois que passou fiquei pensando que eu poderia ter ligado pro número pra ver no que dava, mas passou e não liguei. Espero que alguém tenha a adotado.
Nas ruas também existem muitos cães. Especialmente em Arraial d’Ajuda, cidadezinha muito charmosa ao lado de Porto Seguro, é um distrito de lá acredito, com cara bem de cidadezinha histórica, com igrejas, lojas e restaurantes muito legais, fora as praias, lindas e cercadas pela natureza. Antes de ir, fizemos um roteiro com as principais praias e lugares que queríamos visitar, e Arraial tinha vários deles! Fomos ao Café da Santa, bastante citado como um dos cafés mais legais da região, que valia muito a pena visitar! O lugar realmente é bem bacana, vale mesmo a pena a visita e a degustação dos cafés e quitutes de lá, mas uma cena ocorrida dentro do café me fez não ter vontade de voltar. Era final do dia, bem início da noite, já escurecia, e armou um chuvão, daqueles temporais típicos de verão. Eu e todos os meus amigos que estavam comigo já havíamos feito nossos pedidos e estávamos aguardando, sentados em uma mesinha bem na entrada, dava vista para a praça onde o café fica, em frente a igrejinha principal do arraial. Já havíamos dado uma volta pela praça e pelas ruas do entorno pra apreciar o comércio local, rico em artesanato. Eu já havia cruzado com aquele cachorrinho minúsculo, raquítico, com as costelas aparecendo, andando pra lá e pra cá pela praça, cheirando o chão, em busca de comida. Quando dei por mim, havia um homem segurando ele, na porta do café, forçando-o a não entrar. O homem estava agachado no chão e segurava o cãozinho no ar, pra fora da porta, na chuva, no vento. Uma amiga minha me chamou, me mostrou, na esperança que eu fizesse algo. Fiquei feliz, senti nela um olhar de desespero, que tínhamos que fazer algo, acho que de certa a forma a influenciei a ter esse olhar... fico muito feliz quando vejo que alguém tem uma atitude positiva em relação aos animais e que veio de um exemplo meu, tudo vale a pena nessa hora.
Não pensei muito, fui até ao moço, pedi a ele que parasse de segurar o cachorrinho na chuva. Que poderia soltá-lo que ele não ia entrar, a porta estava cercada de pessoas... Comprei o maior salgado recheado de frango que havia no café, dei pro bichinho, ele comeu com bocadas, estava mais que faminto. Visualmente estava bem, não tinha nenhum sinal de doença, de ferida, nada, apenas uma magreza de cortar o coração e uma tristeza profunda. Sofri demais, pensei em mil maneiras de ajudar, se isso acontece aqui em BH com certeza ele sairia daquele café comigo, direto pra um vet. Mas lá, a única coisa que consegui fazer foi falar muito com aquele rapaz, pedir a ele que fizesse algo pelo animal e mostrar que a única solução era alguém ter piedade e ajudar. Depois que a chuva passou ele saiu, desceu a rua da pracinha com o caõzinho na mão e não voltou mais. Não faço ideia do que ele possa ter feito com ele, mas tentei fazer o que pude e perdi totalmente a vontade de voltar a aquele café. Durante toda essa cena, todas as atendentes e a senhora que estava no caixa, em nenhum momento se preocuparam em fazer nada, assistiram a tudo caladas, torcendo pro bicho ser botado pra fora pelo rapaz, que me disse que era funcionário do local...
Igreja de Nossa Senhora D' Ajuda, na pracinha do arraial
Mirante atrás da igreja
Por fim, Porto Seguro é a terra do descobrimento do Brasil, foi lá que os portugueses desembarcaram e encontraram os índios, que permanecem com uma cultura forte na região. Especialmente nas praias e nos comércios, eles estão presentes, com trajes típicos e artesanatos. Muitas crianças acompanham os adultos, pra mim, parece uma rotina cansativa de andar ao sol, praticamente sem roupas, carregando produtos para vender, durante o dia todo. Todas as crianças em que me aproximei e conversei me pareciam exaustas e pouco felizes em estar ali... E todos eles carregam pássaros, periquitos e maritacas nos ombros, nas mãos, a fim de fazer fotos com turistas. Mas os bichos são visivelmente fracos, judiados, com as asas cortadas, enfim, outra coisa que me deixava bastante infeliz naquele paraíso da natureza. Com todos que pude eu disse que não precisam carregar aqueles bichos, que eu não queria pegá-los nem fotografá-los, para não incentivar né...
Mas isso são apenas alguns detalhes que meus valores me fizeram ver. Isso tudo não tira de maneira nenhuma a beleza e a delícia que é Porto Seguro. Foi minha segunda vez por lá e já quero voltar! Existem muitos motivos que me fazer amar a região e querer voltar muito em breve:
- Custo benefício que vale super a pena: os serviços e produtos têm preço acessível, com exceção do taxi, que tem preço abusivo!!!
- Bom atendimento: funcionários de hotel, dos comércios, restaurantes, guias turísticos, os ambulantes das praias, todos simpáticos e prestativos. Não tivemos nenhuma experiência negativa neste ponto.
Baiana do acarajé e da tapioca, na Praia do Mucugê, em Arrial d’Ajuda. Comida deliciosa e serviço agradável
- A cidade tem aeroporto: facilita pra quem está em estados mais distantes e pode encurtar a viagem.
- Bares e restaurante com variadas opções: desde comidas regionais com frutos do mar, acarajé, cocadas e cacau; a cardápios italiano, brasileiro, japonês, enfim, tem de tudo e com um preço muito bacana (se comparado a praias do RJ, por exemplo).
- Águas quentes: coisa melhor do mundo é entrar no mar e a temperatura da água ser morna! Todas as praias dali têm essas águas. Tem opção pra quem prefere águas mais agitadas, como a praia de Pitinga ou Trancoso, e águas mais calmas, como Coroa Vermelha e Mucugê.
Praia de Pitinga – águas mais agitadas
Praia do Mucugê – águas calmas, indicadas para quem tem crianças
- Calmaria e natureza: diferente das praias mais urbanas, cercadas por prédios e avenidas movimentadas, Porto Seguro e todas as praias da região possui praias cercadas pelo verde, pela natureza, por vegetação típica da região, por rios, por pássaros. Muito dos quiosques aproveitam a sombra de árvores à beira da praia.
Praia de Pitinga – águas agitadas e natureza
Praia Rio Verde Trancoso – cercada pela natureza e vegetação e águas mais agitadas
- ARTESANATO E CULTURA: como é uma região onde a cultura é forte, é possível conhecer lugares, pessoas, costumes e comidas típicas tanto dos índios quanto da Bahia mesmo. O acarajé e o cacau ganham destaque, e pra quem gosta de decoração, vai ficar perdido em meio a tantas opções na Passarela do Descobrimento (centro de Porto Seguro e antiga Passarela do Álcool), e na Rua do Mucugê (em Arraial d’Ajuda).
Vale muito, muito mesmo a pena conhecer os dois e comer e por lá também, claro. São milhares de opções de comidas e bebidas pra todos os gostos! Em Arraial indico o Restaurante Manguti, decoração rustica e comida deliciosa, e a Sorveteria do Coelhinho. Em Porto Seguro o Canto Italiano, com pratos maravilhosos e atendimento também, e a Casa da Esquina, no Beco (ambos na Passarela).
E aí, gostou das dicas?